No início de Junho, no dia 2 foi gravado um vídeo no concelho de Montalegre onde se observa uma galinhola (Scolopax rusticola) adulta acompanhada de quatro juvenis, a deslocarem-se ao longo de um caminho florestal. Este registo chegou ao conhecimento do presidente da Associação Nacional de Caçadores de Galinholas (ANCG), André Verde, e do coordenador da comissão científica da ANCG, David Gonçalves. Foi possível contactar o autor do vídeo, João Rocha, que na altura estava acompanhado por António Mendes, e obter testemunho em primeira mão desta surpreendente observação.
De acordo com a comissão científica da ANCG, o indivíduo adulto seria uma fêmea (nesta espécie é ela quem cuida da ninhada), e os juvenis, pelo tamanho, teriam um ou dois dias de vida. A galinhola é uma espécie nidífuga, ou seja, a progenitora e os juvenis deixam o ninho logo após a eclosão; a postura, normalmente, é composta por quatro ovos.
No dia 10 de Junho, André Verde e David Gonçalves, acompanhados por Eduardo Gomes, conhecedor da área em questão e com informações de José Moura, fizeram uma visita à mesma, durante a manhã, tendo prospetado o terreno, a pé, na tentativa de reencontrar a fêmea e os juvenis e anilhar estes últimos. A ninhada não foi observada, mas foi levantada uma galinhola adulta, que se afastou rapidamente, e que, pelo seu comportamento, não estaria acompanhada de juvenis.
Ao final do dia, a equipa da ANCG voltou ao local. Após nova prospeção, da qual não resultou qualquer observação de galinhola, posicionou-se num local de observação, de forma a poder testemunhar a eventual passagem de galinholas em voo de exibição. Acabaram por registar sete contactos, após o pôr do sol, o que corresponderá a dois ou três machos diferentes. Estes voos de exibição (denominados croule ou roding, em francês ou inglês, respetivamente) são executados pelos machos durante a época de reprodução. Ao final do dia, na fase crepuscular, durante um período cuja duração é variável (em média de 50 a 60 minutos), os machos realizam vários voos, percorrendo uma área com alguns hectares, na tentativa de encontrar alguma fêmea para cortejar. Durante estes voos os machos emitem vocalizações facilmente audíveis e reconhecíveis a algumas centenas de metros.
Estas observações demonstram que, em 2024, durante a época de reprodução da espécie, a galinhola esteve presente e reproduziu-se no concelho de Montalegre, confirmando a sua nidificação em Portugal continental, onde se considerava ser apenas invernante. Se isto tem ocorrido em anos anteriores, de forma regular ou pontual, nesta ou noutras áreas de Montalegre, ou do Norte de Portugal, é o que interessa agora tentar averiguar. A ANCG tem conhecimento de que existirão algumas observações semelhantes em anos anteriores, mas, de momento, não foi possível recolher informação objetiva.
A ANCG, em colaboração com Associações de Caçadores e outras entidades regionais, e sob a direção de David Gonçalves, coordenador da sua comissão científica e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO, Universidade do Porto), pretende desenvolver um programa de monitorização, a iniciar na próxima época de reprodução, que permita ter dados sobre a potencial distribuição da galinhola em época de reprodução nesta zona do país e como a sua abundância poderá variar espacialmente. Este programa será baseado na observação e registo de galinholas em exibição.
Para terminar, a ANCG apela para que lhe sejam comunicadas todas as observações de galinholas em época de reprodução em Portugal continental, passadas, presentes ou futuras.
ANCG
Ver video em: https://www.facebook.com/ancgalinholas/?locale=pt_PT